O Nascimento do iCrach: Mais um Experimento de Código
Era dezembro de 2013, época em que eu fazia muitos experimentos com código - testava ideias, botava no ar, via o que acontecia. O Facebook dominava as redes sociais, o app Lulu estava em alta permitindo avaliações anônimas, e surgiu uma ideia para praticar: e se pudéssemos opinar anonimamente sobre os relacionamentos dos nossos amigos?
Foi assim que nasceu o iCrach, mais um projeto para colocar em prática e se divertir codando. Era simples: você se cadastrava com Facebook, via os casais da sua rede de amigos, e podia votar se achava que eles deveriam continuar juntos ou terminar. Tudo anonimamente, claro.
Lançamento do App: Colocando no Ar e Testando
Botei o iCrach no ar e compartilhei com alguns amigos, como sempre fazia com meus experimentos. O crescimento inicial foi orgânico - pessoa por pessoa, curiosidade por curiosidade. Era interessante ver como as pessoas reagiam: algumas achavam hilário, outras ficavam indignadas, mas ninguém ficava indiferente.
Naquela primeira semana, era só mais um experimento interessante entre tantos outros que eu fazia na época. Não imaginava que ganharia a atenção que ganhou.
Viralização: Crescimento Inesperado do iCrach
O app começou a se espalhar mais do que eu esperava. Mais pessoas se cadastraram, compartilharam com amigos. Era 2013, época em que ainda compartilhávamos tudo nas redes sociais sem pensar muito sobre privacidade ou consequências.
O conceito era simples mas chamava atenção: seus amigos podiam votar se achavam que você e seu parceiro deveriam continuar juntos ou terminar. As notificações começaram a aumentar, o servidor começou a receber mais requisições, e percebi que tinha criado algo que estava ganhando vida própria.
Contexto Técnico: Era o Início da Era OAuth no Facebook
Era importante esclarecer: o iCrach não explorava nenhuma vulnerabilidade do Facebook. Estávamos no início da era das autenticações via redes sociais - OAuth, Facebook Connect eram novidades que estavam revolucionando como aplicações web se integravam.
A arquitetura da época permitia que aplicações acessassem dados dos amigos de forma que hoje, com LGPD, mudanças de privacidade e evolução das APIs, seria impensável. Era questão arquitetural mesmo, não hack nem vulnerabilidade.
Além disso, não estávamos expondo nenhum dado PII (informação pessoal identificável) de usuários. Você só apareceria no iCrach se seu relacionamento estivesse como público no Facebook. Qualquer pessoa já poderia entrar no seu perfil e ver/julgar seu relacionamento - nós apenas facilitamos esse processo que já era público.
Aquele era o cenário normal de 2013: desenvolvedores experimentando com as possibilidades que essas novas integrações ofereciam. O que parece invasivo hoje era a funcionalidade padrão da época - uma perspectiva interessante de como a tecnologia e nossa compreensão sobre privacidade evoluíram.
Cobertura da Mídia: Portais Nacionais Noticiaram o iCrach
Foi quando acordei com várias notificações. O G1 havia publicado uma matéria com o título “Na onda do 'Lulu', app para Facebook incentiva usuários a opinar anonimamente sobre o namoro de amigos”. Em seguida, O Globo também cobriu com “App permite enviar alerta a amigos para avisar que namorado não presta”.
O TechTudo explicava como se descadastrar, e O Tempo noticiou também. Foi bem legal ver que um projeto experimental havia chamado atenção de portais grandes.
De repente, não era mais só um app divertido que eu havia feito para praticar - tinha virado assunto sendo discutido e analisado. Foi meio surreal.
Polêmicas e Discussões: Os Debates que o iCrach Gerou
O que começou como um experimento divertido acabou gerando discussões sobre privacidade, relacionamentos e responsabilidade. Algumas pessoas questionavam se incentivar opiniões sobre relacionamentos alheios era uma boa ideia. Outras defendiam a transparência e honestidade que o app proporcionava.
Era interessante ver como as pessoas reagiam de forma bem polarizada: ou achavam o conceito interessante e honesto, ou consideravam uma invasão de privacidade. Foi uma boa lição sobre como ideias simples podem gerar reflexões complexas.
O Fim do iCrach: Hora de Parar
Decidi encerrar o iCrach após refletir sobre as implicações do que havia criado. Percebi que estava mexendo com questões sensíveis sobre privacidade, relacionamentos e bem-estar das pessoas. O que começou como um experimento descontraído estava tocando em aspectos reais e delicados da vida das pessoas.
Foi uma boa lição sobre responsabilidade no desenvolvimento de produtos. Colocar código no ar é fácil, mas pensar nas consequências sociais do que criamos é mais complexo e importante.
Reflexões: O que Ficou da Experiência com o iCrach
Hoje, quando olho para trás, o iCrach representa bem aquela época em que eu experimentava muito com código, botava ideias no ar para ver o que acontecia. Foi um produto do seu tempo - 2013, quando ainda testávamos conceitos sociais sem pensar muito nas implicações.
Cada linha de código que escrevi, cada discussão que gerou, cada matéria que saiu me ensinou algo sobre desenvolvimento, sociedade e responsabilidade. O iCrach foi uma boa escola sobre como nossas criações podem ter impactos que não prevemos.
“Foi quando aprendi que criar algo que ganha atenção é uma coisa, mas criar algo responsável é bem mais complexo. Cada projeto ensina algo sobre o impacto do que construímos.”
Projetos Atuais: Experimentando com Responsabilidade
Mais de 10 anos depois do iCrach, continuo criando e experimentando. A diferença é que hoje levo mais em consideração o impacto e a responsabilidade do que construo. Atualmente trabalho em alguns projetos:
Devlingo.com.br
Founder & Developer • 2023-2024
Banco de termos técnicos para ajudar desenvolvedores a se comunicarem melhor. Traduzindo o “tecniquês” para o português claro.
Visitar DevlingoO espírito experimental continua vivo, só que agora com mais responsabilidade e consideração sobre o impacto social do que construo.